Wednesday, February 15, 2006

Usufruir da cidade

Andar a pé no centro de Ponta Delgada nos dias úteis entre as 08h00 e as 18h00 é uma tarefa hercúlea.
Com carros a mais, muitas vezes a ocupar o espaço das pessoas (carros indevidamente estacionados nos passeios e em ruas “reservadas” aos peões), com o barulho de escapes e de auto-rádios, e com um ar pesado devido aos gases poluentes.
Ao fim-de-semana a cidade transfigura-se, circula-se muito melhor, respira-se melhor e a cidade fica mais bonita.

Vem isto a propósito das obras no Largo de São João junto ao Teatro Micaelense para, o que julgo ser, a construção de um parque de estacionamento subterrâneo.
Esta obra é a pior relativa à cidade de Ponta Delgada, desde que me lembro.
Reveladora da má gestão e falta de visão de quem tem por incumbência administrar “a coisa pública”.
Será necessária a construção de parques de estacionamento em Ponta Delgada?
Sim, claro que sim.
Mas não dentro da cidade como o projectado para o largo de São João.
Parques de estacionamento dentro da cidade passam a mensagem errada: traga o seu carro para dentro da cidade. Quando a necessária é: deixe o seu carro fora da cidade.
Numa região em que quase tudo se copia da Europa é pena que não se copiem os bons exemplos.
Os parques de estacionamento devem “crescer” na periferia da cidade. Para que o carro fique às “portas” da cidade e não dentro da mesma.
Melhorando depois o acesso dos parques periféricos até ao centro da cidade, por exemplo através de mini-bus.
Contas feitas a cidade não tem capacidade para todos os carros que nela circulam diariamente. Resultado: trânsito caótico numa cidade relativamente pequena, que não tem o trânsito das grandes urbes europeias.
Isto é mais grave numa cidade em que muitas ruas têm passeios estreitos onde duas pessoas em sentido contrário não conseguem passar em simultâneo e uma delas tem de se aventurar pela via reservada aos carros.
E em que, numa rua como a que trabalho, estar no passeio é meio caminho andado para ser atingido por um espelho retrovisor dos carros que passam.

Problema conexo com este é o preço das tarifas dos transportes públicos.
Deixo o exemplo concreto da minha deslocação diária de casa para o trabalho: se utilizar o carro gasto cerca de 10 euros por semana em gasolina, já se utilizar o autocarro gasto cerca de 14 euros por semana em bilhetes. É o Estado a dizer: utilize o seu carro e não os transportes públicos.
É assim que se incentiva o uso do transporte público e se protege o meio ambiente?

Será que ninguém pensa sobre estas coisas?

A cidade é para as pessoas, não para os carros, e é com base nessa premissa que as nossas cidades devem ser planeadas.

3 Comments:

At 1:26 PM, Anonymous Anonymous said...

Tens razao. Com parques lá dentro mais carros vao entrar na city. E que eu saiba o parque do castilho nunca enche pk há sempre sitio pra por o carro. Por isso mais um parque pago e ainda por cima dentro da city, nao tem cabimento. Porque as pessoas nao gastar dinheiro para estacionar os carros, elas querem parque dentro da cidade mas grátis.
É mais uma ideia daquelas de algibeira.

 
At 9:44 AM, Blogger melena said...

este post foi publicado na edição de dia 20-02-2006 do Açoriano Oriental

 
At 11:50 AM, Anonymous Anonymous said...

O resultado para que caminhamos é uma cidade deserta, de serviços, cheia de dormitórios à volta, porque não há condições para se viver nela.

 

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