Thursday, December 15, 2005

O Faial é notícia

Faz amanhã uma semana que o navio «CP Valour» encalhou ao largo da freguesia da Praia do Norte na ilha do Faial.
E tudo parecem ser más notícias, pois não se vê solução à vista.
Este acidente demonstra à saciedade a falta de recursos para patrulhamento e protecção da nossa Zona Económica Exclusiva, elemento identificador e dinamizador da nossa economia.
O quanto descemos, desde país «navegante» que descobriu novos mundos para o mundo, a pobre país periférico que nem as suas águas consegue policiar.
E isso é tanto mais grave nos Açores, pois o mar é a nossa definição e principal característica; somos ilhéus.
O mar é, não só mas também, a nossa única fronteira e não estamos a demonstrar capacidade para a controlar.
Ouvi na rádio o presidente do Governo Regional, que muito interessado se deslocou ao local, dizer: «estou aqui porque tudo o que acontece nos Açores diz respeito ao Governo Regional». Verdadeira pérola do raciocínio lógico!
É reconfortante ouvir isso, pois não sabíamos se o que interessa ao Governo Regional dos Açores é o que se passa, por exemplo… sei lá, na Madeira? Agora, podemos todos dormir descansados.
O que não o ouvi dizer foi o que pensa o Governo Regional fazer para resolver (ou ajudar a marinha a resolver) a situação, para evitar situações iguais no futuro, ou que plano precaveram para o caso indesejado de um grave desastre ecológico.
Nem comentar a evidente falta de meios no combate à poluição ou até a afirmação da organização ambiental “Geota” que fala na «demora no início das operações de limpeza».
Um jornal diário regional de hoje chamava a atenção para as mais de 1.000 toneladas de «fuel-óleo 380» que o navio transporta e para a possibilidade do desastre ecológico, não só no Faial, mas em outras ilhas. E o Pico ali tão perto.
E assim vamos nós numa pretensa região que quer vender aos nórdicos a imagem de destino paradisíaco e de natureza virgem.
Agora, uma coisa é certa, se um grave desastre ecológico acontecer, publicidade não vai faltar e os nossos futuros visitantes vão ouvir falar bastante sobre uma tal de ilha do Faial nos Azores. Publicidade invertida?

6 Comments:

At 11:43 AM, Anonymous Anonymous said...

Esta notícia "toca" nos pontos fundamentais da questão.
Nota 20 (de 0 a 10)!!!
Devia ser divulgada para além deste Blog.

Continua... "herr docter"

 
At 11:14 AM, Blogger Desambientado said...

Não concordo com o seu ponto de vista na totalidade.
Até quando nos manteremos calados e a limpar todos os acidentes que ocorrem no Atlântico? Até quando deixaremos que se cruzem estes nossos mares, em condições climatéricas de risco?

 
At 11:17 AM, Blogger Desambientado said...

melena.

A primeira parte do meu comentário, não tem nada a ver com o não limpar. Claro que devemos limpar, mas prende-se mais com a sua observação "E isso é tanto mais grave nos Açores, pois o mar é a nossa definição e principal característica; somos ilhéus.".
Ora o que queria contrapor com a pergunta, é mais ou menos o seguinte:
Terão os Açores alguma vez capacidade de controlar o tráfego marítimo de todos os grandes países? Esse tráfego é intenso. Em caso de catástrofe temos ou não obrigação moral de os acolher? O que ganhamos com isso?
O que sei é que a maioria dos armadores entra em falência ou desaparece após o acidente.
Afinal quem limpa?
Afinal quem fica com os prejuízos?
O que queria dizer é que de algum modo a obrigação está do lado dos Países que colhem os lucros das transacções, o que envia a carga, o que a recebe e o que a transporta.
Com fiscalização marítima ou não, não creio que sejamos capazes de evitar esse tipo de acidentes. Era essa a minha principal discordância.
Há uma cópia deste comentário, no outro blog.

 
At 2:40 PM, Blogger Desambientado said...

Caro Emanuel (Melena).

Relativamente à fiscalização das águas territoriais,creio que estamos de acordo quanto aos benefícios que traria tal fiscalização. O grande problema está no facto de apenas conhecermos os custos dessa fiscalização e não conhecermos devidamente os benefícios.
Sabe-se que existem apenas três estações de radar em Portugal, que vigiam o espaço aéreo e as águas territoriais da plataforma continental.
Estava em fase de instalação um radar para a Região da Madeira e seriam necessários três para fazer a cobertura total da ZEE Açoriana.
O investimento necessário para fiscalizar as água territoriais açorianas, seria praticamente idêntico ao que foi feito, desde sempre até agora, para o todo nacional.
Acha que alguma vez a ZEE dos Açores terá fiscalização?
Na teoria deveria haver fiscalização, na prática não prevejo que a solução seja rápida. Neste período de contenção financeira, nem o que estava programado anteriormente para os Açores avançará.
Creio que não vale a pena entrar pelo campo da política de defesa, porque certamente teríamos dificuldade em sair.
Quanto à pesca, claro que a fiscalização seria importante, mas até agora só conseguimos defender na Europa metade das nossas águas territoriais.
Que planos de salvaguarda e protecção fomos capazes de apresentar e defender na Europa?
Também não vale a pena entrarmos por aqui porque a discussão seria demasiado larga.
Quanto à garantias bancárias, oxalá que estejam mesmo asseguradas. Será que parte delas servirão para pagar a perda de rendimento dos nossos pescadores? Será que parte desse dinheiro servirá para apostar em meios de defesa contra a poluição química?

O meu ponto de vista centra-se muito facto de achar que eu, como qualquer um de nós, tem que ter orgulho no seu País e na sua Região, e discutir amplamente as questões, de forma a conseguir as melhores soluções para os nossos problemas.
A desresponsabilização pessoal de tudo, é comum em Portugal. Ouvir-se dizer que Portugal é uma tristeza, é muito comum; explicar como se torna num paraíso com o apoio de todos é que é mais difícil.

Cumprimentos.

 
At 1:21 PM, Anonymous Anonymous said...

Caso curioso, esta "tragédia " depois de termos ouvido a Secretária do Ambiente dizer que a situação estava controlada.
Que controle é este ?!
Marta

 
At 4:10 PM, Blogger Desambientado said...

Caro Emanuel (Melena).

Pois é, os benefícios seriam inquantificáveis, mas o problema é que na economia de mercado em que vivemos tudo tem um preço, até a vida humana.
Se antes achavamos que a vida humana tinum valor incalculável, agora, na nossa sociedade, até essa tem um valor de mercado, vale o que está tabelado nas várias agências de seguros. O ambiente, a biodiversidade e os valores tem sido avaliados pela mesma bitola.

Quanto à utilização do Citador, que diáriamente vai colocando, uma frase, uma notícia ou um comentário, no blog, basta clicar sobre ele e copiar o ficheiro html.
Se tiver alguma dúvida como se faz, basta perguntar.

 

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